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[TRADUÇÃO] As Super Estrelas BTS falam sobre serem candidatos a representantes da nova geração.

  • Foto do escritor: Army 24 Horas
    Army 24 Horas
  • 16 de fev. de 2018
  • 11 min de leitura

Nenhum estilo musical no planeta consegue criar um fandom tão obsessivo quanto o kpop consegue. Os "garotos a prova de balas" BTS conseguiram finalmente (agora, de verdade) trazer isso para a América — tudo em coreano.

Construída em 1957 como um salão de recepção para o governo coreano pós-guerra, com o objetivo de entreter estrangeiros importantes, a "Korea House" é um oásis silencioso em meio a cidade tumultuada de Seoul, com um pátio fotogênico e com uma coleção de casas tradicionais antigas chamadas de hanoks. Normalmente é usada como cenário de dramas de TV históricos ou casamentos, porém durante essa iluminada e fria manhã do meio de janeiro ela serviu de refúgio para os sete membros coreanos do BTS, cuja popularidade ultrapassou a esfera de influencia tradicional do kpop, especialmente durante os últimos seis meses, expandindo-se para os Estados Unidos também.


Quando cheguei o grupo estava escondido em uma sala dentro de outra sala com portas de papel e um pequeno detalhe de segurança. No quarto externo, um total de 20 cabeleireiros, publicitários e outros membros da equipe da BigHit Entertainment, andam em volta, beliscando os lanches e as bebidas fornecidas. Todos falavam em tom baixo. Os membros do BTS precisaram de 15 minutos extras antes do photoshot se iniciar. Eles estavam, compreensivelmente, exaustos: sua agenda estava lotada com performances, programas televisivos, comerciais e meet-and-greets desde a performance no "New Year’s Eve". Eu viajei para Seul apenas para encontra-los em o que foi uma rara abertura em sua agenda.


O primeiro a sair do quarto foi J-Hope, 23 anos, dançarino de street dance da cidade de Gwangju, que sai saltitante e então é seguido de RM, também de 23 anos, o líder e embaixador de inglês do grupo. O resto dos rapazes saíram em fila vestindo roupas escuras e similares da Saint Laurent: Suga, 24, o rapper idealista e "cheio de alma"; Jimin, 22, dançarino de dança contemporânea e com rosto de bebê; V, 22, o mestre impressionista; Jungkook, 20, o golden maknae que é bom em tudo; e Jin, 25, que é conhecido como "bonito mundialmente". Eles formam um semi-circulo de cabelos coloridos, e RM comenta o quão alto eu sou e sobre o fato de que eu consigo falar coreano (como uma criança de 10 anos). Eles estão prontos para a foto, mas tão sonolentos que eu desejei que tivessem tido mais 15 minutos pra descansar. Porém tempo é dinheiro, e esses caras valem muito.


É fácil compreender o porque BigHit trata os membros como se fossem joias valiosas. Eles estão entre as maiores estrelas do kpop — seu último álbum em 2017 Love Yourself: Her vendeu mais de 1,58 milhões de cópias ao redor do mundo. E embora o nome possa não ser familiar nos Estados Unidos, BTS está mostrando números impressionantes na América considerando que é um grupo que canta quase inteiramente em coreano. Love Yourself: Her debutou em 7 no Billboard 200 em setembro de 2017. E BTS possui duas músicas com as posições mais altas pra um grupo de kpop desde que os charts foram criados, "DNA" atingiu o lugar 67 no Billboard Hot 100 e o remix de Mic Drof feat. Steve Aoki e Desiigner atingiu a posição 28. Apenas nos EUA BTS vendeu 1,6 M de dowloads e atingiu 1,5 Bilhões de streams em demanda, de acordo com Nielsen Music.


BTS se conectou com milhares de pessoas ao redor do mundo mesmo que isso desafie o ortodoxo comumente imposto a boy-bands e ao Kpop em si. Claro, eles possuem músicas sobre amor e ótimas coreografias. Porém, as músicas do BTS, as quais os membros tem ajudado a compor desde o inicio, tem regularmente feito criticas a um sistema educacional míope, materialismo e a mídia, falando sobre uma estrutura aparentemente contra a geração mais nova. "Honestamente, do nosso ponto de vista, todo dia é estressante para nossa geração. É difícil conseguir um emprego, é mais difícil comparecer à faculdade agora mais do que nunca, " diz RM, até recentemente conhecido como Rap Monster. "Adultos precisam criar politicas que possam facilitar essa enorme mudança social. Agora mesmo, as classes privilegiadas, e as classe do topo precisa mudar o jeito que pensa." Suga entra na conversa: "E isso não é apenas na Coreia, mas no resto do mundo também. O motivo para o qual nossa música atinge tantas pessoas ao redor do mundo em sua adolescência, no seus 20 ou 30 anos é porque elas se identificam com essas questões.".


As fotos foram tiradas e estávamos sentados em sofás numa pequena sala em meio aos estúdios de produção no Escritório da BigHit, os membros vestiram jaquetas e malhas mais confortáveis, porém ainda estilosas. Em casa, falando em coreano, eles estão mais calmos e menos ansiosos para impressionar do que estiveram em sua recente, porém um pouco estranha, "turnê" na América, onde eles apareceram em The Late Late Show com James Corden, Jimmy Kimmel Live! e o The Ellen DeGeneres Show, onde RM corajosamente evitou questões sobre estar namorando. Hoje, suas vozes estão notoriamente mais grossas, mais sonoras. RM, como usual, é o que mais conversa, as vezes jogando as perguntas aos membros mais quietos. Mas Suga é uma surpresa: tagarela e pensante, parece preparado para uma batalha de rap socialmente consciente.


O fandom de kpop fanático é, por enquanto, um clichê da cultura pop. Mesmo em um mundo onde super estrelas edificam esforços para subir algumas posições nos charts e criar brigas com fandoms rivais — Beatles mania multiplicada pela internet — fãs de kpop são inegavelmente devotas e influentes. O BTS ARMY (sigla que significa Adorable Representative M.C for Youth) é o motor que alimenta o fenômeno: traduzem letras e legendam aparições na mídia coreana, fazem mutirões de clicks, views, likes e retweets para colocar BTS nos trends do Twitter e do Youtube; e domina por completo competições e enquetes online. BigHit diz que garante que as noticias e atualizações sejam postadas no fancafe do BTS para não despertar a indignação dos fãs.


Sua fanbase global é o motivo pelo qual um grupo do qual você talvez nunca tenha ouvido falar está atingindo os ranks mais altos nos charts dos EUA; aparecendo no Billboard Music Awards, onde conseguiu o troféu de social artist (votado pelos fãs) em 2017; e performou no American Music Awards. ( " O AMAs foi o maior presente que podiamos receber de nossos fãs" diz Suga) . Puramente em termos de mídia Social, eles são simplesmente a maior "coisa" acontecendo, comandando o social 50 da Billboard por 58 semanas consecutivas em número 1, um total que só perde para Justin Bieber, porém que é mais do dobro do tempo que o terceiro colocado conseguiu, ninguém mais ninguém menos que Taylor Swift.


Os ARMYS não apenas idealizam os membros do BTS, eles se identificam com os mesmos. Quando o grupo debutou em 2013 com 2 cool 4 skool, os membros falaram sobre a pressão familiar em qualquer aluno coreano: a necessidade de estudar duro, entrar em uma faculdade e conseguir um emprego estável. O primeiro single deles, “No More Dream” e “N.O.,” criticava severamente alunos que atendem as aulas como zumbis sem senso de propósito. O que é toda essa educação pela qual eles vão atrás — para "se tornar o trabalhador do governo número 1?". As músicas foram um retorno a artistas coreanos como H.O.T e Seo Taiji & Boys, apenas atualizado por uma geração sobrecarregada com dívidas em uma economia cada vez mais competitiva.


"Eu estava pensando sobre o meu eu do passado," diz RM, admitindo que ele era um desses alunos sem alma. "Não existia nada que eu quisesse fazer; eu apenas queria fazer um monte de dinheiro. Eu comecei escrevendo essa música pensando nela como uma carta para alguns amigos meus que eram como eu no passado."


"A faculdade nos é apresentada como uma espécie de cura-tudo" diz Suga "Eles dizem que se você for (pra uma faculdade) sua vida estará resolvida. Eles até dizem que você vai perder peso, ficar mais alto...".


RM: "Que você irá arrumar uma namorada."


Jin: "Que você ficará mais bonito."


Suga: " Mas não é isso o que acontece, e então eles percebem que foi tudo uma mentira. Ninguém mais pode se responsabilizar por você a partir dai."


"Se não levantarmos essas questões, quem vai?" Continua Suga " Nossos pais? Adultos? Então isso não fica encarregado a nós? Esse é o tipo de conversa que a gente tem (na banda): Quem sabe melhor e pode contar os problemas pelo qual a nossa geração passa? Nós."


Conforme se tornam cada vez mais famosos, os artistas também ficaram cautelosos em dizer o que poderia ser percebido como errado ou "político". Nesse quesito Suga é o mais franco. Quando eu pergunto a eles sobre os protestos maciços à luz de velas, pedindo a demissão da presidente Park Geun-hye em Seul no inverno passado, Suga aborda prontamente o tópico: "Passando o certo e o errado, a verdade e a falsidade, os cidadãos se juntando e levantando a voz é algo que eu posso ativamente apoiar".


RM, porém, é mais atento a sensibilidades em potencial. Na recente morte de Jonghyun do grupo de Kpop Shinee, que sofreu de depressão e cometeu suicídio no último dezembro, ele disse " Nós fomos dar nossas condolências aquela manhã. Eu não consegui dormir a noite inteira. Isso foi tão chocante, porque o víamos com frequência em eventos. Ele era tão bem sucedido." Suga acrescenta, " isso foi um choque para todo mundo, e eu realmente simpatizava (gostava) com ele" e RM nos guia para o fim da conversa "Isso é tudo o que temos pra dizer."


Porém Suga continua. " Eu realmente quero dizer que todo mundo no mundo é solitário e todos são tristes, e se pensarmos que todos estão sofrendo e sozinhos, eu espero que possamos criar um ambiente onde nós podemos pedir por ajuda, e dizer que as coisas estão difíceis quando elas estão difíceis e dizer que nós sentimos saudades de alguém quando sentirmos saudades".


Mais tarde eu trouxe a tona um tweet que RM escreveu em março de 2013, dizendo que quando ele entendeu sobre o que a letra para Macklemore & Ryan Lewis, um hino de casamentos gays, "Same Love", queria dizer, ele passou a gostar dela duas vezes mais. Fans do BTS naturalmente entenderam isso como o BTS apoiando abertamente os direitos homossexuais — uma raridade no Kpop. Hoje ele fala um pouco mais discretamente sobre o tema: "É difícil achar as palavras certas: Dizendo 'same love' é a mesma coisa que dizer que 'o amor é o mesmo'. Eu apenas gostei muito daquela música. Isso é tudo o que eu tenho pra dizer."


Suga, entretanto, é claro sobre seu posicionamento: " Não há nada de errado. Todos somos iguais."


O sucesso repentino e avassalador do BTS foi uma surpresa, mesmo na coreia. 3 anos nessa carreira — uma eternidade dentro do ciclo de vida do Kpop — e o grupo finalmente ganhou tração em 2016 com Blood Swat and Tears. Parte da razão para tamanha surpresa é porque o BTS é primeiro grande ato a ser lançado pela BigHit, uma empresa simples e anonima que não faz parte das companhias da "Big3" — YJ, JYP e SM— que controlam a industria da música coreana, produzindo a maioria dos artistas de kpop de sucesso das ultimas décadas, incluindo Girls Generation, BIGBANG, Super Junior e Wonder Girls. E BTS simplesmente não passa o mesmo sentimento de grupos pré-fabricados criados pra dominar o mercado musical.


Bang Si-hyuk, o fundador/CEO da Bighit, em sua juventude ganhou experiencia com a JYP, trabalhando lado a lado com Park Jin-yong e escrevendo e produzindo hits para o Rain, 2AM e Baek Ji-young. "Mesmo as pessoas próximas a mim não acreditavam em mim" ele diz, lembrando-se dos primeiros dias com o BTS. "Mesmo que eles me parabenizassem por ter sido bem sucedido no passado, eles não acreditavam que eu poderia colocar esse boy group

no topo". Assim como outras companias, BigHit supervisiona tudo, desde a gravação até a distribuição e o marketing para os eventos do grupo. Ele diz que as pessoas pensaram que o nome "Escoteiros a prova de balas" traziam um sentimento que lembrava a Coreia do Norte, mas ele sentiu que eles se tornariam uma roupa a prova de balas metafórica para a geração deles.


Bang inicialmente pretendia criar um grupo de hip hop, "como os Migos", diz RM. Bang escutou a mixtape do RM pela primeira vez em 2010 e ainda consegue se lembrar de algumas linhas. Ele citou "Meu coração é como um detetive que tem um filho criminoso. Mesmo que eu saiba quem é o inimigo, eu não consigo captura-lo". "Isso foi chocante pra mim " Bang diz "RM é extremamente reflexivo sobre si mesmo, sofisticado e filósofo, considerando sua idade" RM, cujo verdadeiro nome é Kim Namjoon, tinha apenas 15 anos na época. Bang o contratou imediatamente.


Antigamente, grupos como SNSD e Super Junior estavam em ascensão. Então Bang criou um grupo que iria mesclar o visual e o carisma desses grupos com a honestidade do hip-hop. Durante os anos seguintes ele recrutou Suga, um rapper que ele descreve como tendo uma máscara de indiferença mascarando um coração humilde, e então J-Hope, o dançarino de rua (no sentido de street dance). BigHit então promoveu audições de extensas. Um olheiro recrutou Jin após vê-lo descendo de um ônibus e o convenceu a tentar se juntar ao grupo; ele eventualmente entrou no grupo ao lado de V e Jungkook. Jimin foi o último a ingressar o grupo, após um agente da BigHit observar-lo em uma escola de dança moderna.


No inicio, todos os membros tentaram aprender como rimar. "Eu queria aprender como fazer rap" diz Jimin, que, assim como Jungkook, agora canta " Mas depois que eles me deixaram tentar uma vez, eles apenas diziam 'vamos apenas focar em melhorar os vocais'" RM concordou com um sinal de cabeça "Foi uma escolha sábia" ele disse e todos caem na risada.


Eles eram a ralé campeã da BigHit, e eles possuem senso de união. De inicio eles viviam juntos em um único quarto pequeno, dormindo em beliches e aprendendo sobre os hábitos de sono um do outro. ( Jimin fica em posições estranhas na cama e Jungkook começou a roncar, "É muita informação" reconhece RM). Eles ainda moram juntos, porém com um pouco mais de espaço — J-Hope e Jimin compartilham o maior quarto — e planejam continuar morando juntos.


"Quando nós estamos em casa, vamos todos pros quartos um do outro"diz Jin. "Mesmo quando eu vou pra casa ver minha família, eu fico entediado, admito" adiciona Suga. " E se existe um problema ou alguém está magoado, nós não ignoramos, nós falamos sobre isso."


"Então, se J-Hope e Jin brigam, não é apenas os dois que resolvem isso" explica Jungkook. "Somos todos nós" diz Suga.


"Todos se reúnem"diz RM, pra sempre o intelectual " é como uma ágora na Grécia: todos se reúnem e questionam o que está acontecendo."


Após a entrevista RM me leva para seu estúdio de produção, uma pequena sala no fim do corredor decorado com figuras de KAWS gigantes em caixas de vidro, um poster Supreme do Mick Tyson e skates. Do lado de dentro a parede estava alinhada com seus próprios KAWS de brinquedo e um modelo do Banksy, “Rage, Flower Thrower” , que ele admitiu ter pagado uma boa quantia para conseguir. Fora a isso existia um típico local de trabalho: uma cadeira de rodinhas, um monitor gigante, e o item mais preciso de todos, seu laptop.


Em uma das letras do BTS, existe um motivo para o baepsae, um pássaro de pernas curtas e fofo que é nativo da Coreia e conhecido como crow-tit (sem tradução pra português). Uma expressão coreana diz que se um crow-tit tentar andar como uma cegonha, ele vai quebrar suas próprias pernas. É como um conto que tenta passar um aviso sobre ser cauteloso — é um aviso para que você não se esforçar tanto ou tentar ser algo que você não é. Porém BTS usa isso como algo para se vangloriar, a declaração de um pequeno e frágil pássaro. Em “Silver Spoon,” Suga coloca uma descarada e atrevida virada na situação, "Nossa geração teve dificuldade / Nós os perseguiremos rapidamente/ Por causa das cegonhas a forquilha das minhas calças está esticada de forma apertada/ então me chame de beapsae".


Agora que eles estão, quase no sentido literal da palavra, no topo do mundo, eles ainda podem se chamar de "oprimidos"? "Nós tomamos muito cuidado em relação a nos chamarmos de beapsae agora" diz Suga. "Mas a realidade é que foi de lá que começamos e é de onde nossas raízes são." E RM aponta que eles ainda se consideram agentes de mudanças: " Se existem problemas, nós os traremos a tona para que nossa voz consiga ser ouvida, então esperamos que o clima mude e que nós possamos falar sobre isso livremente."


BTS é o grupo de kpop do momento porque balanceia as contradições existentes no gênero em uma escala global: Eles estão invadindo a America cantando e fazendo rap em coreano, criando intimidade usando ampla exposição em mídias sociais, expressando seus ideais políticos sem incitar controvérsia e inspirando fervorosa obsessão por uma vida saudável (love yourself). Isso é onde os oprimidos chegaram.


Porém o grupo prefere que você não os questione sobre o futuro. Os membros e produtores habilidosamente se esquivam de perguntas que envolvem o próximo álbum — embora saibamos que eles ainda não possuem nenhum plano que envolva um álbum em Inglês, explicando que um movimento como esse iria alienar o núcleo de sua fanbase. Entretanto, eles parecem felizes em continuar fazendo o que fazem. RM, claro, filosofa um pouco sobre isso: "Em coreano, a palavra futuro é feita de duas partes," ele explica, propondo uma espécie de enigma sobre o quão longe a banda chegou e até onde ainda pode ir." A primeira parte significa 'não' e a segunda significa 'está por vir'. Nesse sentido, 'futuro' significa alguma coisa que não está por vir. Isso é para dizer 'o futuro é agora e o nosso agora é viver o nosso futuro' ".


Link original matéria da Billboard aqui.

 
 
 

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